quinta-feira, 27 de junho de 2013

A rua de camadas

Caminho entre dedos
a barra da calça suspende
Calcanhares e dores
O cheiro de dias
A dor de sempre
Um ônibus que nunca veio
Nem foi
Mas hoje passou
Peguei.
Por que, não sei
levantei do sofá para correr
Cumprir com o que querem de mim

como sempre, sumi
Andava na rua de ontem
Aquela janela de madeira ali
agora é de metal
Mas ainda tem meu nome
E o nome dela
Gravados com um clips
Que não sabia que tinha
E não guardei.
Um clips,
que só esteve em meu bolso
Naquele dia
E para aquilo
Hoje
Não sou aquele
Hoje pego caronas
Sem saber porque
Antes vagava para dentro
E divagava entre os outros

salto do ônibus,
Ando em direção àquela esquina
Onde ficava a casa de ninguém
Que virou churrascaria, loja de discos
A pizzaria de tantas brigas
De tantas mesas onde gravei
Tantos amores
muita raiva
E descontei muito desconforto
onde conflitos tinham sabor de marguerita
coca com gelo e limão
e cheiro de azeite
talvez nem fosse azeite
mas lembro do cheiro.
Mesmo depois de tantos anos.
de tantas confusões.
anos mais tarde
Ainda no passado
Mas talvez mais distante
Marcas mais novas
Menos profundas
Parecem mais distantes
 o restaurante foi novo cenário
 da conciliação.
A primeira de tantas refeições
que vieram depois
e virão ainda.
De tantos conflitos.
Também restaurou o respeito
Em conversa franca e ruidosa
o heroi que matei
a dor da dúvida
o amor reprimido

Mas hoje essa loja
Que vejo todos os dias
Não é nada mais
Só lembrança
Que precisei levantar do sofá,
Pegar um ônibus que nunca vi
Nem existe
Saí de calça e chinelo
Comi minha calça
E andei para correr
Desisti.
Voltei a esmo
Já não sou mais daquela rua
meu ônibus não passa mais
Pois nunca existiu
E agora,
Aquele que viu seu passado
Também nao existe mais
Todo aquele cenário de ontem
Sobrepõe o passado recente
E cola em papel manteiga
Uma rua cheia de histórias
E, agora, com muitas camadas
em um eterno presente