segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Preguiça = tédio + ócio





O Preguiçoso
de Haroldo de Campos

Beiço pendente sobe a papada, papada pendente sobre o peitilho da camisa gomada, o comendador Salustiano tivera a felicidade de casar-se com uma senhora rica, viúva de dois maridos, e herdeira de três, a qual, para maior comodidade, lhe havia levado, já, dois filhos para o matrimônio. Derreado em uma cadeira de braços, nunca fizera nada, na vida. Limitava-se a comer o que lhe colocavam diante da boca, e, para vestir-se, era necessário que lhe metessem os botões na camisa, a gravata no colarinho, e lhe enfiassem, mesmo, as botinas nos pés.

Precisando de marido unicamente para lhe dar o nome, espécie de guarda-chuva com que afrontava os temporais, Dona Josefina pouco se afligia com aquele porco. Um dia, porém, irritou-se: ao lado da cadeira em que ele passava o dia, um lago de saliva sujava o tapete.

— Oh, Salustiano! — fez a moça. — Então, isso se faz? A escarradeira não estava alí?

— Estava; mas a dois metros de distância.

— Por que não chamou o criado, para aproximá-la?

— Ora... Só o trabalho de gritar!...

— Pois, olhe: eu vou mandar colocar aí, junto de você, uma campainha elétrica... Ouviu?

No dia seguinte, aparecia, realmente, o eletricista. Colocados os fios, os tímpanos, enfim, pronto o trabalho, explicou ele ao comendador, que o olhava, estúpido, com os seus olhos de suíno:

— Quando o senhor quiser chamar o criado, é só apertar aqui...

— Apertar? — fez Salustiano.

E as mãos caídas, o beiço mole:

— Não tem alguma coisa que toque, sem dar a gente o trabalho de apertar?

domingo, 25 de janeiro de 2009

Resenha: Show Marcelo Camelo SESC (São José dos Campos) (Não no de Taubaté)

Na sexta-feira, dia 23 de janeiro de 2009, pude, pela primeira vez ver o show desse que merece o título de grande compositor. De fato, "sou" está entre os discos mais interessantes de 2008. E pode também ser considerado um grande álbum. Porém, a MPB de Camelo passa longe de ser encaixada em alguma qualificação musical. É MPB, é bolero, é samba e marchinha, mas com 2 guitarras, 2 baixos em algumas músicas, percussão, sopro e xilofone. Tudo isso com a voz suave de Marcelo Camelo e uma bateria um pouco comportada demais, mas bastante regular e inteligente. Longe do pragmatismo apaixonado de Rodrigo Barba, as canções dos Los Hermanos ganharam corpo e novas sonoridades, mas perderam um pouco de energia. Barba podia ser pragmático e simplista, mas o fazia com paixão e se fazia ouvir, o que não acontece com esse novo baterista de Camelo, que às vezes parecia tentar se esconder em meio aos diferentes sons e ruídos produzidos pelos 9 músicos no palco.
Camelo, à frente de uma "big band" de qualidade indiscutivelmente boa, demonstrava a mesma falta de energia dos tempos de Los Hermanos, talvez os gritos de agradecimento e despedida no último show na Fundição Progresso tenham sido sua melhor performance extrovertida. O cantor e compositor fazia seu tipinho de "Cara Estranho" no palco e em diversas ocasiões se debruçava no seu violão como se estivesse chorando ou "sentindo" a música. Falou pouco com o público que era modesto, mas parecia bastante animado e teve de esperar 3 canções para ouvir um boa noite do cantor. Só aí deu pra sentir que de fato era um show especial. Não especial em relação aos vários shows de uma turnê, mas especial para os que pagaram barato para ver um senhor músico no sesc. Ao dizer "Boa noite, Obrigado", Marcelo não se dirigiu diretamente ao público joseense, mas ao menos era algo que, mesmo sendo um jargão eterno da música mundial, mesmo podendo ser uma saudação tanto de início quanto de fim, eram palavras dele para o público. Estabeleceu-se então a relação entre palco e platéia.
Muitos que ali estavam, desconheciam a carreira solo do cantor. Muitos foram para ouvir a música que ele canta com a namorada, o "novo talento" (com mais aspas, pois é mais nova do que talentosa) da múscia pop Mallu Magalhães, que, de fato é uma boa canção, mas passa longe de ser a melhor de "sou". Muitos pediam Anna Julia (inclusive quem vos fala, pois sempre quis vê-lo tocando só voz e violão essa música), muitos pedias "O Vencedor", alguns pediam "Jantar" e ninguém pediu "Copacabana". Porém, foi o ponto alto do show. A música animou a platéia que já parecia estar cansada do marasmo e do ambiente intimista sem intimidade que o show tivera até ali. Depois vieram algumas experiências e psicodelias o público desistiu de entender o que se passava no palco. Marcelo Camelo merece respeito por apresentar desde o primeiro disco em 1999 ainda com a banda Los Hermanos uma ideia de MPB diferente. Ele nos apresenta a maturidade dos anos de banda em uma nova estética de música brasileira com recursos de banquinho e violão encorpados com a psicodelia de guitarras, instrumentos de sopro e recursos eletrônicos simples. Tudo isso foi apresentado para os joseesnses, que mesmo sendo um povo não-musical e que nunca valorizou e dificilmente valorizará a cultura, muito menos a cultura brasileira, aprovou, de alguma forma. Mas parece que todos saíram com cara de "Los Hermanos era mais legal", o que não é justo, pois não se pode misturar uma banda e um músico. São coisas diferentes, músicas diferentes, bandas diferentes, instrumentos diferentes, política diferente e, principalmente, objetivos diferentes. E isso é o ponto positivo do show. Marcelo Camelo parece pretencioso em relação à sua nova MPB, que de fato é nova e é boa. Pretenção não e legal, mas não há como culpá-lo. Sua música é boa, seu show é bom e pouca gente faz melhor. E a melhor parte, seu futuro promete. É um músico novo, fazendo música nova e parece veterano.

PS: O som estava horrível. Tomates podres na empresa que cuidou disso. Não há desculpas plausíveis do tipo "o ambiente era fechado", "os equipamentos não eram muito bons"... O SESC foi reformado há pouco tempo e o ginásio foi construído também para receber shows. O som estava muito alto e não havia definição. Isso é triste, mas é São José dos Campos. Apesar da narradora do SESC dizer que "Esse foi o show do Marcelo Camelo no SESC Taubaté". Não dá pra esperar coisa melhor nessa cidade sem cultura e sem educação voltada para isso.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Para quem não entendeu o que aconteceu em 2008

2008 foi um ano de muitas mudanças e algumas ressurreições no plano da música.

Aí vai um TOP 5 de Álbuns do ano!

5º Lugar: "Black Ice" novo álbum do AC/DC.
Entrou na lista por parecer absurdo um disco do AC/DC de 2008 entrar nas "paradas de sucesso"! Pois foi o que aconteceu. E não foi como o Queen que voltou com Paul Rogers ( Ex- Free) e só colocou entre os mais vendidos no Brasil os Queen Collection e Queen Collection 2. As músicas parecem velhas, mas são novas. Angus parece novo, mas está velho. Muito bom!

Para quem ainda não ouviu aí vai:
http://www.4shared.com/file/66522525/30d6e076/ac-dc_-_black_ice-2008-ind.html?s=1

(SIM! As músicas são inéditas!)

4º Lugar: "Only By The Night". Novo álbum do Kings Of Leon.
Aparece em quarto lugar por representar uma reviravolta completa na carreira dos garotos caipiras de Columbia - Tennessee que (dizem que) não conheciam nada de Roquem Rou a não ser o que ouviam na igreja e do piano da mãe dos irmãos Caleb (Vocal - Guitarra), Jared (Baixo) e Nathan Followill (Bateria). Sim, soa "fake", mas nem tanto. Dá pra perceber alguma ingenuidade no som deles. Em "Only By The Night", as guitarras perdem um pouco a força e as músicas ganham um tom intimista e meio apocalíptico, mas ao mesmo tempo funcionam muito bem em estádios lotados (Não no caso de Cold Desert, apenas). Uma (entre muitas aspas) revolução na música atual. Um Roquem Rou vistoso, forte e trabalhado. Com ótimas linhas (simples) de Baixo e Bateria. Em algumas músicas as guitarras praticamente inexistem. De fato é um disco que soa pouco roqueiro, mas muito conceitual. O oposto do Roqueiro setentista de "Youth and Young Manhood". Vale muito a pena!
Para quem não tem, vale a pena conferir!
http://www.4shared.com/file/79322043/659fb344/Kings_Of_Leon_-_Only_By_The_Night__2008_.html

3ºLugar - "Forth". The Verve.

O menos esperado para esse ano, com toda a certeza. 10 anos após o "último fim da banda", o Verve volta com mais um álbum forte e convincente. A banda continua com a mesma linha musical e temática também "apocalíptica" e pessimista de Urban Hymns. Porém, agora com mais características atuais, como sons quase inaudíveis nos intervalos das músicas e um zumbido cuidadoso no preenchimento das músicas. Mesmo assim, o disco inteiro soa mais cru do que os outros. E mais bem pensado também. Destaque para "Love is Noise" e "Rather Be", ambas do próprio Richard Ashcroft, que vem se consolidando ainda mais como um grande compositor. Um grande disco que se destaca mais pela importância da volta de uma das melhores bandas dos últimos anos. Só espero que dessa vez a volta seja diferente...
Confira o novo do Verve:
http://rapidshare.com/files/159938102/The_Verve_Forth.rar

2º Lugar: "Death Magnetic" - Metallica
Antes que os desiludidos achem que esse disco continua da linha de St. Anger: Não! Esse disco em nada parece com o disco de 2003. St. Anger foi composto por 3. Esse foi composto por 4. Incluindo o novo Baixista Robert Turjillo e sua pegada de 3 dedos na mão direita. Sim. Ele toca no mesmo estilo de Cliff Burton, com o peso do Suicidal Tendences e a violência que usava tocando com o Ozzy. Além disso, Hetfield aprendeu a solar e divide muito mais solos com Kirk Hammet do que nos bons tempos de Ride The Lighting e ...And Justice For All. Sua voz mantém a potência e os solos, que haviam sumido em St. Anger, voltam ao Metallica. Músicas como "Cyanide", "The Day That Never Come" e a instrumental "My Apocalipse" mostram aquela força de outrora que consagrou a banda. Ouvir "Death Magnetic" é uma experiência como poucas. Me caíram algumas lágrimas, eu confesso. Poucas, mas chegaram a cair. Put... Disco!
Para quem perdeu:
http://lix.in/-3fe933

1º Lugar - "Chineese Democracy" - Guns N' Roses
Chamar essa banda de Guns N' Roses pode até parecer uma ofensa para os mais fanáticos. Dizer que o disco foi lançado em 2008 com o mesmo nome e as mesmas músicas prometidas em 2001 naquele Rock In Rio. É mais engraçado ainda foi o fato de o vocalista e único remanescente da antiga formação Axl Rose ter desaparecido logo após o lançamento do disco. Uns dizem que foi para ver o desempenho de seu novo disco sem ser procurado e perguntado sobre o sucesso (ou não) de Chineese Democracy. Outros dizem que para tentar acabar com o Velvet Revolver e reunir a banda em sua formação antiga. Pra mim ambos foram os motivos para ele ter fugido. E acho também que se escondeu do seu próprio fracasso em tentar reunir os antigos integrantes da banda. Ridículo, como tudo o que o Guns fez. Música boa, mas clipes novela, vestimentas femininas e "atitudes Roquem Rou". Tudo muito ridículo. Tudo o que consagrou a antiga banda. Com a conseqüência da música ser boa, é claro. Atitudes ridículas de um ex-astro ro roquem rou. Pela história e pela espera, vale muito a pena ouvir. O disco não é ruim, nem bom. Parece uma banda que começou tocando côveres de Guns N' Roses e Rush com um vocalista que sabe cantar razoavelmente bem as duas coisas e de repente começou a fazer músicas. Não tem nenhuma novidade, mas por tudo o que envolve esse disco, ele merece destaque nessa lista. Foi o disco mais importante do ano! Na minha opinião, é claro. (eu esperei...)

Para quem ainda não ouviu:
http://www.4shared.com/file/71765091/fe163e2d/Guns_n_Roses_-_Chinese_Democracy.html


É isso! Bom 2009, muita música e curtam esses discos.