domingo, 25 de janeiro de 2009

Resenha: Show Marcelo Camelo SESC (São José dos Campos) (Não no de Taubaté)

Na sexta-feira, dia 23 de janeiro de 2009, pude, pela primeira vez ver o show desse que merece o título de grande compositor. De fato, "sou" está entre os discos mais interessantes de 2008. E pode também ser considerado um grande álbum. Porém, a MPB de Camelo passa longe de ser encaixada em alguma qualificação musical. É MPB, é bolero, é samba e marchinha, mas com 2 guitarras, 2 baixos em algumas músicas, percussão, sopro e xilofone. Tudo isso com a voz suave de Marcelo Camelo e uma bateria um pouco comportada demais, mas bastante regular e inteligente. Longe do pragmatismo apaixonado de Rodrigo Barba, as canções dos Los Hermanos ganharam corpo e novas sonoridades, mas perderam um pouco de energia. Barba podia ser pragmático e simplista, mas o fazia com paixão e se fazia ouvir, o que não acontece com esse novo baterista de Camelo, que às vezes parecia tentar se esconder em meio aos diferentes sons e ruídos produzidos pelos 9 músicos no palco.
Camelo, à frente de uma "big band" de qualidade indiscutivelmente boa, demonstrava a mesma falta de energia dos tempos de Los Hermanos, talvez os gritos de agradecimento e despedida no último show na Fundição Progresso tenham sido sua melhor performance extrovertida. O cantor e compositor fazia seu tipinho de "Cara Estranho" no palco e em diversas ocasiões se debruçava no seu violão como se estivesse chorando ou "sentindo" a música. Falou pouco com o público que era modesto, mas parecia bastante animado e teve de esperar 3 canções para ouvir um boa noite do cantor. Só aí deu pra sentir que de fato era um show especial. Não especial em relação aos vários shows de uma turnê, mas especial para os que pagaram barato para ver um senhor músico no sesc. Ao dizer "Boa noite, Obrigado", Marcelo não se dirigiu diretamente ao público joseense, mas ao menos era algo que, mesmo sendo um jargão eterno da música mundial, mesmo podendo ser uma saudação tanto de início quanto de fim, eram palavras dele para o público. Estabeleceu-se então a relação entre palco e platéia.
Muitos que ali estavam, desconheciam a carreira solo do cantor. Muitos foram para ouvir a música que ele canta com a namorada, o "novo talento" (com mais aspas, pois é mais nova do que talentosa) da múscia pop Mallu Magalhães, que, de fato é uma boa canção, mas passa longe de ser a melhor de "sou". Muitos pediam Anna Julia (inclusive quem vos fala, pois sempre quis vê-lo tocando só voz e violão essa música), muitos pedias "O Vencedor", alguns pediam "Jantar" e ninguém pediu "Copacabana". Porém, foi o ponto alto do show. A música animou a platéia que já parecia estar cansada do marasmo e do ambiente intimista sem intimidade que o show tivera até ali. Depois vieram algumas experiências e psicodelias o público desistiu de entender o que se passava no palco. Marcelo Camelo merece respeito por apresentar desde o primeiro disco em 1999 ainda com a banda Los Hermanos uma ideia de MPB diferente. Ele nos apresenta a maturidade dos anos de banda em uma nova estética de música brasileira com recursos de banquinho e violão encorpados com a psicodelia de guitarras, instrumentos de sopro e recursos eletrônicos simples. Tudo isso foi apresentado para os joseesnses, que mesmo sendo um povo não-musical e que nunca valorizou e dificilmente valorizará a cultura, muito menos a cultura brasileira, aprovou, de alguma forma. Mas parece que todos saíram com cara de "Los Hermanos era mais legal", o que não é justo, pois não se pode misturar uma banda e um músico. São coisas diferentes, músicas diferentes, bandas diferentes, instrumentos diferentes, política diferente e, principalmente, objetivos diferentes. E isso é o ponto positivo do show. Marcelo Camelo parece pretencioso em relação à sua nova MPB, que de fato é nova e é boa. Pretenção não e legal, mas não há como culpá-lo. Sua música é boa, seu show é bom e pouca gente faz melhor. E a melhor parte, seu futuro promete. É um músico novo, fazendo música nova e parece veterano.

PS: O som estava horrível. Tomates podres na empresa que cuidou disso. Não há desculpas plausíveis do tipo "o ambiente era fechado", "os equipamentos não eram muito bons"... O SESC foi reformado há pouco tempo e o ginásio foi construído também para receber shows. O som estava muito alto e não havia definição. Isso é triste, mas é São José dos Campos. Apesar da narradora do SESC dizer que "Esse foi o show do Marcelo Camelo no SESC Taubaté". Não dá pra esperar coisa melhor nessa cidade sem cultura e sem educação voltada para isso.

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